A poucos quilômetros da cidade de Roma, fica Genazzano – uma cidade rica em história e abençoada com a presença de uma pintura milagrosa da Virgem Santíssima que tem uma história extraordinária.
As origens de Genazzano
remontam aos tempos dos imperadores romanos. Por causa da sua
proximidade com Roma, a cidade foi escolhida por muitos patrícios e
cortesãos imperiais como um local para suas casas de campo. Os vastos
jardins que circundam essas moradias frequentemente serviram como palco
de festas perversas, jogos e rituais pagãos em honra dos deuses a quem os romanos atribuíam a fertilidade de seus campos.
Uma dessas celebrações era realizada todo dia 25 de abril
em honra da deusa Flora ou Vênus. Para esse evento, pessoas de todas as
classes – homens livres e escravos, patrícios e plebeus – se reuniam
para uma grande festa. Essa prática gradualmente se dissolveu e os
templos caíram em ruinas enquanto o sopro vivificador do Cristianismo regenerava os povos da Europa.
No século III, foi dada uma ordem para construir um santuário dedicado à Mãe de Deus sob a terna invocação de Mãe do Bom Conselho, sobre as ruínas dos templos romanos.
Com o passar dos anos, a cidade se tornou mais populosa e o santuário cresceu em fama. Durante a Idade Média, os franciscanos
e os agostinianos fundaram mosteiros nas proximidades. Com o tempo, a
igreja primitiva erigida em honra da Mãe do Bom Conselho começou a
mostrar sinais de degradação. Além disso, como o santuário era pequeno,
os fiéis construíram igrejas maiores e mais ricas para suas solenes
funções.
Em 1356, por volta de um século antes da aparição da pintura
milagrosa que introduziria Genazzano nos anais das maravilhas da Igreja,
o príncipe Pietro Giordan Colonna, cuja família adquiriu senhorio na
cidade, atribuiu a Igreja mais antiga da cidade e sua paróquia aos
cuidados dos Eremitas de Santo Agostinho. Os fiéis teriam, assim, a assistência pastoral necessária, e reparos poderiam ser feitos na Igreja antiga.
Apesar das orações
dos fiéis terem se intensificado, as dificuldades financeiras impediram
a restauração urgente e necessária do antigo templo. Mas a Mãe que dá
sábios conselhos em todas as circunstâncias e atentamente provê as
necessidades dos homens, escolheu uma terceira-agostiniana, Petruccia de
Nocera, para realizar um prodígio sobrenatural que traria a tão
desejada restauração.
Petruccia tinha recebido uma modesta fortuna depois da morte do seu
marido em 1436. Vivendo sozinha, ela dedicou a maior parte do seu tempo
às orações e aos serviços na igreja da Mãe do Bom Conselho.
Entristeceu-a ver o estado deplorável das instalações sagradas e ela
rezou fervorosamente para sua restauração. Finalmente, ela resolveu
tomar a iniciativa. Depois de obter permissão dos frades, ela doou seus
bens para iniciar a restauração na esperança de que outros a ajudariam a
concluí-la uma vez que havia começado.
Um plano foi traçado para a construção de uma magnífica igreja. No
entanto, uma vez que a ardorosa tarefa havia começado, Petruccia, que já
tinha 80 anos de idade, notou que sua generosa oferta foi escassamente
suficiente para completar a primeira fase da nova construção. Para
piorar a situação, ninguém veio ajudá-la.
Para seu espanto, a construção mal havia subido 1 metro, quando a
construção parou devido à falta de recursos. Seus amigos e vizinhos
começaram a ridicularizá-la. Detratores a acusaram de imprudência.
Outros severamente repreenderam-na em público. Para todos eles ela
dizia: “Meus queridos filhos, não dêem tanta importância para essa
aparente desgraça. Eu lhes asseguro que antes da minha morte a
Santíssima Virgem e nosso santo pai Agostinho finalizarão a igreja
começada por mim”.
Em 25 de abril de 1467, o dia da festa do patrono da cidade, São Marcos,
uma solene celebração foi iniciada com a missa. Era sábado, a multidão
começou a se reunir em frente à Igreja da Mãe do Bom Conselho. A única
nota discrepante na celebração foi o trabalho inacabado de Petruccia.
Por volta das quatro da tarde, todos ouviram os acordes de uma bela
melodia que parecia vir do céu. As pessoas olharam para as torres da
igreja e viram uma nuvem branca que brilhava com milhares de raios
luminosos e que, gradualmente, se aproximava da multidão estupefata ao
som de uma melodia excepcionalmente bela. A nuvem desceu na Igreja da
Mãe do Bom Conselho e pousou sobre a parede da capela inacabada de São
Biagio, que Petruccia havia começado.
De repente, os sinos da antiga torre começaram a tocar por si. Os
outros sinos da torre também tocaram milagrosamente em uníssono. Os
raios que emanavam da nuvenzinha se apagaram e a própria nuvem
gradualmente desapareceu, revelando um belo objeto, sob o olhar
encantado dos espectadores. Era uma pintura que representava Nossa
Senhora ternamente segurando seu Divino Filho nos seus braços. Quase
imediatamente, a Virgem Maria
começou a curar os doentes e conceder consolações incontáveis, cujas
memórias foram gravadas para a posteridade pelas autoridades
eclesiásticas locais.
As noticias da pintura e seus milagres se espalharam pela província e
além, atraindo as multidões. Algumas cidades formaram procissões
entusiásticas para ver a imagem que o povo chamou de Madonna do Paraíso
por causa da sua celestial entrada na cidade. Numerosas esmolas foram
doadas como resposta à confiança inabalável que Nossa Senhora inspirou
em Petruccia.
Em meio ao entusiasmo geral causado pela pintura, Nossa Senhora quis
divulgar a verdadeira origem do maravilhoso afresco para seus devotos.
Dois estrangeiros, cujos nomes eram Giorgio e De Sclavis, entraram na
cidade no meio de um grupo de peregrinos que vinham de Roma. Eles
vestiam roupas estranhas e falaram uma língua estrangeira, dizendo que
eles haviam chegado em Roma no início daquele ano a partir da Albânia.
Enquanto a maioria das pessoas se recusava a acreditar nos dois
estrangeiros, a história deles teve um significado especial para os
habitantes de Genazzano.
Em Janeiro de 1467 morreu o último grande líder albanês, Jorge Castriota, melhor conhecido como Skanderbeg. Elevado por um chefe albanês, ele se colocou à frente do seu próprio povo.
Posteriormente, Skanderbeg infligiu impressionantes derrotas ao exército turco e ocupou fortalezas por toda a Albânia.
Com a morte de Skanderbeg,
o exército turco, finalmente livre deste Fulminante Leão da Guerra,
voltou para Albânia, ocupando todas as fortalezas, cidades e províncias
com exceção de Scutari, no norte do país.
No entanto, a capacidade de resistir da cidade era limitada e sua
captura era esperada a qualquer momento. Com sua queda, a Albânia cristã
seria derrotada. Diante desta perspectiva, aqueles que queriam praticar
sua fé em terras cristãs começaram um triste êxodo. Giorgio e De
Sclavis também estudaram a possibilidade de fugir, mas algo os manteve
em Scutari, onde havia uma pequena igreja, considerada o santuário de
todo o Reino Albanês. Nessa igreja os fiéis veneravam uma imagem de
Nossa Senhora que tinha misteriosamente descido dos céus duzentos anos
antes.
De acordo com a tradição, ela veio do leste. Tendo derramado
inumeráveis graças sobre toda a população, sua igreja se tornou o
principal centro de peregrinação na Albânia. O próprio Skanderbeg tinha
visitado esse santuário mais de uma vez para ardentemente pedir a
vitória nas batalhas. Agora o santuário estava ameaçado por uma iminente
profanação e destruição.
Os dois albaneses ficaram aflitos com a idéia de deixar o grande
tesouro da Albânia nas mãos do inimigo para fugirem do terror turco. Na
sua perplexidade, eles foram para a antiga igreja pedir à Santíssima
Virgem o bom conselho que eles precisavam.
Naquela noite, a Consoladora dos Aflitos os inspirou a ambos em seu
sono. Ela os ordenou que se preparassem para deixar seu país, que jamais
veriam novamente. Ela acrescentou que o milagroso afresco também estava
deixando Scutari para outro país para escapar da profanação dos turcos.
Finalmente, ela os ordenou a seguir a pintura onde ela fosse.
Na manhã seguinte, os dois amigos foram ao santuário. Em certo
momento eles viram a imagem se destacar da parede onde esteve pendurada
por dois séculos. Deixando seu nicho, ela pairou no ar por um momento e
foi, de repente, envolta numa nuvem branca na qual a imagem continuava
ainda visível.
A pintura peregrina deixou a igreja e os arredores de Scutari. Viajou
lentamente pelo ar numa altitude considerável e avançou em direção ao
mar Adriático numa velocidade que permitia os dois albaneses
acompanhá-la. Depois de percorrer uns 38 quilômetros, eles chegaram à
costa.
Sem parar, a imagem deixou a terra e avançou sobre as águas, enquanto
Giorgio e De Sclavis, mantendo a confiança, continuaram a segui-la,
caminhando sobre as ondas assim como seu Divino Mestre fez no Lago de
Genesaré. Quando a noite caía, a nuvem misteriosa, que os havia
protegido com sua sombra do calor do sol, guiava-os à noite com luz,
como a coluna de fogo no deserto guiou os Judeus em seu êxodo do Egito.
Eles viajaram dia e noite até chegarem à costa italiana. Lá,
continuaram a seguir a imagem milagrosa, escalando montanhas, vadeando
rios e passando através de vales. Finalmente, chegaram à vasta planície
de Lazio, de onde podiam ver as torres e cúpulas de Roma. Ao chegar às
portas da cidade, a nuvem desapareceu de repente diante de seus olhos
decepcionados.
Giorgio e De Sclavis começaram a procurar na cidade, indo de igreja
em igreja, perguntando se a pintura havia descido lá. Todas suas
tentativas para encontrar a pintura falharam e os romanos receberam os
dois estrangeiros e seu estranho conto com incredulidade.
Pouco tempo depois, notícias surpreendentes chegaram a Roma: uma
imagem de Nossa Senhora apareceu nos céus de Genazzano ao som de uma
bela música
e tinha vindo para ficar na parede de uma igreja que estava sendo
reconstruída. Os dois albaneses correram para encontrar o tesouro amado
de seu país milagrosamente suspenso no ar próximo à parede da capela
onde permanece até hoje.
Embora alguns habitantes acharam a história dos estrangeiros difícil
de acreditar, investigações cuidadosas mais tarde provaram que os dois
estavam contando a verdade e que a imagem era mesmo a mesma que
agraciava o santuário em Scutari.
Assim Maria Santíssima, com a humilde participação de uma piedosa
terceira-agostiniana de um lado do Adriático e dois fiéis albaneses do
outro, transportou seu misterioso afresco da infeliz e desventurada
Albânia para uma pequena cidade muito perto do coração da Cristandade.
Começando sua histórica jornada do pequeno santuário albanês, que ela
havia escolhido não por acaso, ela viajou sobre o mar para derramar
sobre o mundo uma nova torrente de graças sob a invocação de Mãe do Bom Conselho.
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