JOSÉ ROBERTO PEREIRA
Era muito cedo ainda, e João Costa, filho de Júlio e Caridade, (avós
paternos de José Roberto) já tinha tirado o leite e enviado para a fábrica de
Queijo de Zezinho Vitório em Rua Nova, Distrito de Quebrangulo. Nesta época,
início dos anos cinqüenta, João morava numa casa construída por ele às margens
do Rio Alabarí, na divisa com Alagoas, em terras da Fazenda Garrincha.
JOÃO COSTA E JOÃO CATOLÉ – VAQUEIROS DA VELHA GUARDA - 1979
Esta fazenda pertence às terras originais compradas pelos antepassados
em 1817. Fica localizada aproximadamente no centro do triângulo entre os
municípios de Bom Conselho, Palmeira dos Índios e Quebrangulo.
Esta fazenda pertencia a Júlio Costa e Maria Caridade de Araújo, os
quais ainda em vida dividiram-na com os seus filhos, Vanutério, João, Jerusa,
Reinaldo e Auristela.
Um pouco a Oeste do Rio Alabarí ficava a sede da fazenda, sede esta
construída na década de trinta por Júlio Costa. A sede da fazenda dividia suas
terras com a Fazenda Borges dos Irmãos Veiga. O açude da sede fica ao lado da
casa e foi construído segundo a orientação do Padre Cícero Romão Batista.
O Santo do Juazeiro orientou Júlio Costa que o barro da parede do açude
deveria ser misturado com cinza de angico (árvore nativa), pois, com estas
mistura jamais o açude seria destruído pela força das águas.
Foi nesta sede da fazenda Garricha que aos 19 de novembro de 1949, num
dia de Sábado às 11 horas do dia nasceu José Roberto Pereira.
Era dia da Bandeira e aniversário de criação do Distrito de Rainha
Izabel. A parteira Mãe Sinhá Vidal conhecida em toda a região. Vamos aos fatos:
João acabava de lavar seu cavalo Pinga Fogo e vinha puxando a animal
pelo cabresto assobiando “a ema gemeu no tronco do juremá, será que é
nosso amor, benzinho que vai se acabar ”...?
Aquele um dia especial, pois, haveria uma festa de pega de boi em Odésio
e era nestes encontros que os primos e amigos se reuniam numa confraternização
onde as cachaças, “Chora na Rampa, Canta Calo, Gato Preto, Chica Boa e cigarro
Astória” falavam mais alto.
João amarrou o Pinga Fogo no oitão da casa e deu ao animal uma ração de
milho reforçada, afinal de contas aquele era um dia especial.
No Domingo anterior, na feira de Rainha Isabel, já tinha acertado com os
primos João e Sebastião Cazuza que eram bastante conhecidos na lida do gado.
Sebastião, com sua força descomunal, era capaz de sozinho, colocar um
animal ao chão fosse cavalo, burro, jumento ou garrote. Seu irmão João Cazuza
era especialista em montar animal bravo, fosse burro, égua, cavalo, não
importava a raça, cor ou origem.
Sebastião pegava e João montava. Era um “trupé” pesado, a dupla de
irmãos.
Lourdes, prima e esposa, de João Costa já estava com o café pronto, café
preparado num fogão de lenha.
-
Lourdes estou preocupado, pois até agora os meninos
não chegaram.
-
Tá cedo, João, daqui a pouco eles chegam.
Daí eles iriam todos para a
fazenda Lages, do Tio Silvino e de lá partiriam para a fazenda de Odésio.
João Costa dava os últimos retoques no
arreio de Pinga Fogo. No dia anterior passara cebo na perneira, no gibão e na
corda de couro cru.
Odésio era conhecido em toda a região
pela sua vaquejada e pelas pegas de boi no mato.
Nesta época a vaquejada era “pega e
puxa”, ou seja, assim que o boi saia da sangra tinha que ser derrubado, pois,
quanto mais perto da sangra o boi fosse derrubado maior a contagem de pontos.
Numa grande faixa de terra com muita
madeira, chique-chique, espinho de Cruz, unha de gato e marmeleiro, Odésio
deixara crescer uma novilha mestiça de nelore e como a garrota era muito brava,
Odésio lançou o desafio a todos os vaqueiros da região para a pega da garrota.
Desafio lançado, desafio aceito.
Chegaram João Cazuza, Sebastião Cazuza
e Batista, todos bem montados foram para as Lages onde já esperava tio Silvino
conhecido e respeitado por todos eles como o vaqueiro modelo, o melhor.
Tio Silvino juntou-se aos primos e
sobrinhos e num galope só, foram para a fazenda de Odésio.
Anfitrião por natureza, querido por
todos, Odésio, dava as últimas ordens para que em sua festa nada faltasse. Na
hora marcada todos os vaqueiros foram bater a capoeira atrás da novilha.
Seguiu também a equipe de Tio Silvino.
As horas passaram e nada de encontrar a novilha. Os vaqueiros vão chegando a
sede da fazenda desanimados e ainda, Odésio gozando com todos eles:
-
E aí vocês parecem mulheres vestidas de vaqueiro.
Onde está a novilha?
-
Odésio, a novilha encantou-se, pois o cercado foi
batido e nada.
-
A novilha ta lá vocês é que são uns vaqueiros de
merda, rebatia Odésio.
Vendo aquela situação, um
peão da fazenda, amigo de tio Silvino, informa que a novilha arrebentou uns
arames e esta pastando no cerrado vizinho. A estratégia foi montada, ficando
Batista e Silvino no buraco da cerca, os irmãos João e Sebastião Cazuza ao lado
e João Costa foi com o peão tanger a novilha. Não deu outra e a novilha
procurou a saída.
A carreira foi bonita, a quebradeira na madeira foi grande e os gritos
de levante de Tio Silvino, eram ouvidos a distância. Na queda da novilha
Batista caiu em cima e pela jugular da novilha enterrou uma faca peixeira bem
amolada. Com poucos movimentos a novilha morre.
A noite estava chegando quando a equipe de Tio Silvino volta a sede da
fazenda. Odésio torna a fazer piada.
-
E aí seu Silvino, pensei que vocês tinham se
perdido?
-
Odésio prepare as mulheres, os candeeiros e mande
aproveitar a carne da novilha se não os cachorros irão comer, falou Tio
Silvino.
Odésio engoliu em seco não
disse nada, porém, ele sabia que desafiar os Araujo Pereira numa pega de boi só
poderia terminar assim.
O forró foi até de madrugada. “A ema
gemeu...”
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