Nascido
em Alagoas no ano de 1903, Artur de Araujo Pereira Ramos é filho de Dr. Manoel
Ramos de Araujo Pereira e de Ana Ramos de Araujo Pereira. Dr. Manoel Ramos de
Araujo Pereira sempre foi conhecido em Pilar e região como Dr. Ramos (Médico
formado pela Faculdade da Bahia), sendo o mesmo o elo que liga os Araujo
Pereira que ficaram na Zona da Mata Norte de Pernambuco, dos que fugiram para a
região que fica entre Bom Conselho - PE e Quebrangulo – AL, mais precisamente
na Fazenda Cacimbinhas. Meu avô materno Simplício Olavo de Araujo Pereira tinha
por este primo uma consideração toda especial. Do casamento de Manoel Ramos de
Araujo Pereira e Ana Ramos de Araujo Pereira nasceram: Luis, Evangelina, Raul,
Nilo, Aluisio, Georgina, Julieta e Artur de Araujo Pereira Ramos, o nosso
cientista.
Quando o viajante alemão Hans Staden escreveu, na metade do século
XVI, sua “História Verdadeira e Descrição de um país de Selvagens Despidos e
Antropófagos” um relato dos costumes dos índios tupinambás. A primeira pesquisa
antropológica do campo acabava de ser feita no Brasil. Três séculos depois,
quando Dom Pedro I subiu a bordo dos navios que traziam imigrantes europeus e
comparou sua estatura com a deles, costas as costas estavam sendo feitas as
primeiras mensurações antropológicas registradas na história do país. Acasos e
improvisações, no entanto, só cederam lugar aos estudos científicos no século
XX, com Curt Ninuendaju, Nina Rodrigues e, entre eles, Artur de Araujo Pereira
Ramos (1903 – 1949), antropólogo e folclorista, autor de 458 trabalhos
originais sobre psicanálise, higiene mental, educação, religião e folclore, é
hoje reconhecido como grande pioneiro da antropologia aplicada no Brasil.
Formado em medicina, Ramos abandonou a psicopatologia em 1934 – de onde havia
partido como seu mestre, Nina Rodrigues, e resolveu dedicar-se aos estudos
antropológicos, publicando o livro “O Negro Brasileiro”, que projetou seu nome.
Sua obra mais importante, entretanto, apesar de básica para todos os estudiosos
de ciências sociais, continuava esgotada desde que a Segunda edição de 1951,
foi inteiramente vendida.
Em quatro volumes (“O Negro na Civilização Brasileira”, “As Culturas
Indígenas”, e “As Culturas Européias”), a “Introdução” examina as culturas
Negras, Indígenas, Européias e os contatos raciais e culturais no Brasil.
Preparada durante a Segunda Guerra mundial reúne todo o conhecimento da época
sobre o homem brasileiro, suas origens e manifestações. Embora a bibliografia
que Ramos relacionou daquele período lhe era estranha, sua obra se ressente, em
alguns pontos, das transformações que a antropologia, ciência nova, sofreu
durante as rápidas mudanças operadas no mundo nos últimos trinta anos. Os dados
antropométricos, por exemplo, muito usados numa época em que fé e propaganda
política falava em tipos branquicéfalos (indivíduo cujo crânio tem forma de um
avo) e delicocéfalo (indivíduo cuja largura do crânio tem quatro quintos do comprimento),
foram depois relegados a segundo plano na antropologia. Pequenas omissões,
porém, não são suficientes para reduzir a importância da obra de Artur Ramos,
antes de tudo pioneira e vasta.
De fato, sua “Introdução à Antropologia Brasileira” compõe um mosaico que
representava gente de todas as nacionalidades convivendo pacificamente no
cenário rico e único de um grande país acolhedor, trazendo e fundindo suas
culturas de origem, para a formação de algo ainda indefinido, mas de grandeza
previsível. Negros, Índios, Judeus, Holandeses, Portugueses, Espanhóis,
Ingleses e Franceses, imigrantes de todas as latitudes, enriquecendo o
patrimônio de um país, somando culturas, temperamentos, tipos físicos diversos
– essa a visão global transmitida pela obra de Artur Ramos.
Alguns conceitos modernos, entre eles o de desenvolvimento, surgiram desse
trabalho, em que se evidenciava antes de tudo a preocupação com o bem-estar e a
dignidade do homem. Em conferência que realizou em 1941, na Sociedade
Brasileira de Antropologia – é o etnólogo Manuel Diegues Junior quem lembra no
prefácio de um dos volumes -, Artur Ramos pregava a aplicação dos resultados da
antropologia à solução dos problemas do homem brasileiro. Sem esse sentido, ele
achava que essa ciência social perdia muito do seu significado e corria o risco
de passar por um jogo fascinante, mero entretenimento intelectual.
Essas conclusões, de certa maneira, ficam enfeixadas pelo quarto volume da
“Introdução”, dedicado ao que o autor chama de “a grande aventura européia em
terras do Brasil”. Nele, Artur Ramos traça com minúcias as características
raciais das principais correntes migratórias que ajudaram a compor a população
brasileira e continuaram gerando tipos novos e imprevistos.
Apesar de sua idade, a obra de Artur Ramos, especialmente nesses estudos,
permanece atualizada – por sua imensa coleta de material e por sua exposição
pormenorizada. Médico, Professor, Chefe do serviço de Higiene Mental do antigo
Distrito Federal e Chefe do Departamento de Ciências Sociais da UNESCO, em
Paris, Artur Ramos não teve, muitas vezes, por premência de tempo ou por
modéstia, a intenção de interpretar, a não ser em suas linhas gerais, a
infinidade de dados de que dispunha. Mas a realidade em que baseou sua obra não
envelhece nem depende de pontos de vista.
Na cidade de Pilar - AL, terra natal de Artur de Araujo Pereira Ramos, existe
um museu na casa que nasceu o ilustre parente.
Escrito
por José Roberto Pereira.
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